sexta-feira, agosto 07, 2009

Arquitetura da Arborização Urbana


Quando se fala em paisagismo parece que não há dúvidas. É sobre as plantas e jardins que se pensa estar falando. Há até certa lógica nesse pensamento, mas não se pode afirmar que seja de todo exato.
 

Hoje entendemos que a palavra paisagismo tem um significado muito amplo. A junção das palavras - paisagem + ismo representa a paisagem em transformação, tanto pela ação dos homens como também por ação da natureza.
 

Paisagismo é fazer paisagens. Pode-se dizer que essa seria a principal tradução deste conceito. Descontando o grande trabalho que fez e faz a natureza sempre e sempre, podemos dizer que todos nós fazemos paisagismo. E de fato todos nós o fazemos. Transformamos o tempo todo, tanto para o bem-estar como para o desmazelo da cidades (pois não podemos deixar de lembrar que algumas paisagens são um verdadeiro desastre em todos os sentidos).

As cidades crescentes de nosso país apresentam suas paisagens transformadas, nem sempre boas ou belas, como são as áreas degradadas pela miséria, pelo abandono social e ou pelo abandono técnico. Por isso, as transformações das paisagens precisam ser técnicas e devem ser assim porque as paisagens transformadas não são isentas de responsabilidades.  

Devem fazé-la bem os arquitetos nas cidades, os agrônomos no campo, e os engenheiros florestais nas matas e nas indústrias madeireiras.

A Arquitetura paisagística, que é o paisagismo dos arquitetos, ao fazer as paisagens tanto na grande escala como a cidade, como na escala de uma praça, requer conhecimento técnico de muitas disciplinas.


O arquiteto romano Vitruvius já ensinava no século I antes de Cristo, que a Arquitetura era a comunhão de três substâncias essenciais: utilitas, firmitas e venustas - (utilidade, solidez e beleza). Do mesmo modo ainda, a Arquitetura Paisagística não pode ser formulada só pelo aspecto estético, mas também sim, pelos aspectos utilitário, ético e moral de uma sociedade.


Além de gosto estético apurado e educado, é necessário ao arquiteto que o cidadão contrata, uma pitada de inovação, outra de curiosidade, e muitas, muitas de responsabilidade social e ambiental, se é que possível dar receitas sobre como projetar a paisagem.
 

Talvez você ainda se pergunte porque tanta responsabilidade será necessária para “plantar umas plantinhas pelo jardim” ou as “árvores nas calçadas das ruas”?

Posso responder falando sobre esses mesmos exemplos.

O primeiro, “plantar umas plantinhas no jardim” denuncia que a Arquitetura Paisagística ainda é percebida como uma atividade pouco importante, ou mesmo fútil. Esse é o primeiro equívoco absoluto que precisa ser rebatido. A Arquitetura Paisagística tem a função
de criar e organizar os espaços livres, utilizando diversos materiais para a construção desses espaços, e entre outros também o “material” vegetação. E não plantar plantinhas por aí

Esse ponto, portanto, não tem nada de fútil ou de pouca importância, e nem tão pouco é uma operação complementar à obra arquitetônica. É a própria obra arquitetônica, e sem dúvida alguma, uma especialidade que requer muitos saberes. Criar espaços livres (bons espaços) é uma função muito especial e fundamental.

Considerando que a Arquitetura Paisagística não tem como única preocupação a questão estética do espaço livre, mas sim sua qualidade ambiental, social e cultural), o outro ponto a ser rebatido é que, mesmo a proposta do pequeno jardim, precisa revelar sua condição transformadora.

Um jardim precisa ser um “lugar”. 

Um jardim precisa ter identidade, que permita desenvolver sensações agradáveis aos usuários e manter relações ecossistêmicas com seus freqüentadores (não só para as pessoas, mas também para a fauna do local). 

Tem que fazer parte do mundo que o cerca e que nos cerca, e principalmente, não ser apenas um local cheio de potes e plantas, cujos donos lutam para manter vivos e vitalizados, nem sempre com sucesso. 

O jardim antes de tudo tem que ser uma mensagem que nos diga algo.

Se nenhuma dessas observações ainda foi suficinte e convincente de que é preciso responsabilidade social e ambiental para se criar um jardim, aí então é preciso falar sobre “as árvores nas calçadas das ruas”.


O caminho de todos que ainda podem seguir sem titubear não é o mesmo de que precisam as crianças, os idosos ou as pessoas com necessidades especiais. Esse caminho precisa ser livre e sem obstáculos, precisa ser continuo e de fácil circulação. Precisa garantir o ir e vir e, portanto deve ter a largura adequada, para quem trafega e para o que nele se instala ou planta. Precisa ser bem sinalizado, não só com placas, pois muitos desses transeuntes nem sequer podem ver ou ouvir. Os sinais precisam ser voltados aos sentidos, todos eles.


Um exemplo são os pisos táteis, que podem ser sentidos pelos pés ou mesmo pelas pontas dos dedos das mãos que vibram quando a bengala passa sobre eles informando: - pare; siga; cuidado, você irá atravessar a via pública; ou mesmo há um telefone público à direita ou à esquerda. 


Não importa de quais sinais se fale aqui, desde que eles estejam pelas ruas, avenidas e praças o quanto for necessário, para permitir que as pessoas que vêem muito pouco ou nada, saibam se referenciar pela cidade. E que os deficientes auditivos também o façam ouvindo.

E o que essas coisas podem ter com as árvores nas calçadas? 


Nossa resposta dirá que para "plantar umas plantinhas ou arvorezinhas" nas calçadas das cidades é preciso entender a geometria dessa paisagem e entender que relações e dimensões espaciais, ambientais e ecossistêmicas estão presentes em cada quadra, em cada rua, em cada lugar.

A rua, esse complexo espaço livre, não é só para carros e pedestres passarem, é um espaço de fluxos e também um espaço social de iguais, em cidadania e de desiguais em necessidades.


Para uns e outros é um espaço público, que deve ser sombreado em pelo menos 2/3 do caminho para ser saudável e confortável nos dias quentes, como nos ensina Mascaró, e iluminado para dar segurança e possivel de ser usado à noite.Concordo com essa proporção em São Luís do MAranhão.


A árvore da rua, que se indica, não pode ser uma árvore qualquer, tem de ser uma que tenha as raízes pivotantes, apenas onde não houver infra-estrutura como tubulações de esgoto ou água potável abaixo da calçada. Quando aplicadas ao projeto da rua
não são indicadas as que  têm raízes superficiais, porque essas levantam os pisos das calçadas, e aí, nossos transeuntes de necessidades especiais teriam outros empecilhos - as raízes expostas e a destruição das sinalizações.

Falou-se que as ruas precisam ser sombreadas, mas não serão por qualquer sombra. Deverá ser de árvores cujo tamanho nem seja tão baixo que a copa impeça o flâneur, nem tão alto que a copa se enrosque nos fios da rede elétrica, e que depois não sejam castigadas pelo engano plantado, recebendo podas que as deformarão. Suas copas não devem competir com a iluminação dos postes, ambas devem se associar.


As folhas devem ser finas e lisas para não acumular poeira e para não espalhar o pó nos dias de ventania. Não deve ter frutos grandes que machuquem quem passa, nem por cair na cabeça, nem por fazer cair no chão. Que sejam frutos que os bichos do lugar possam buscar e comer, e não aquelas árvores que os bichos desprezam. As flores são sempre bem vindas, desde que libertem pouquíssimo pólen, o que deixaria os já alérgicos mais doentes, ou flores que caduquem tanto que as calçadas se transformam em caminhos escorregadios.


Enfim, quase parecendo que se descreve uma Arquitetura Paisagística do não pode isso, não pode aquilo, terminamos este papo, demonstrando que a geometria da paisagem é composta por muitos elementos materiais e imateriais. E que para dizer que uma planta se aplicará aqui ou ali, muitas coisas importantes, além da beleza que uma espécie pode nos dar, precisam ser levadas em consideração.


A Arquitetura Paisagística tem simpatia por todas as espécies, mas especifica para cada espaço livre apenas aquelas que constroem de fato uma paisagem. Isto é técnica e responsabilidade social e ambiental.



Eu, por outro lado, continuarei a ter antipatia (não gratuita) pelas espécies exóticas invasoras, principalmente quando se tratar da paisagem das ilhas.

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